Archive for the ‘Em viagem’ Category

Istambul, um telemóvel e a boca doce

15/03/2010

Tenho muito boas memórias de Istambul. E da Turquia, em geral.
E como agora se celebra aí a Capital Europeia da Cultura, decidi dar o meu contributo.

Cada vez gosto menos de fotografar algo que não tenho tempo de compreender. Às vezes, as coisas são tão avassaladoras que tenho medo de as enfrentar com a máquina, de cometer uma injustiça enorme e ficar apenas com uma colecção de clichés que perpetuam a imagem pobre (quando não mesmo errada) de um determinado local. Istambul é para mim um desses casos.

Estive lá por duas vezes, sinto-me particularmente descontraído a deambular pelas ruas e até lá tenho bons amigos – que me alojaram nos epicentros de Taksim e Beyoglu -, mas o universo desta cidade é tão grande e complexo que nunca tive coragem de fazer qualquer trabalho fotográfico “a sério”. Em vez disso, refugiei-me em apontamentos com o telemóvel, sem qualquer preocupação de colocar uma reportagem aqui ou ali.

As imagens que podem ver neste post saíram da minha última passagem. Já o disse várias vezes: fotografar com um telemóvel é muito terapêutico, porque dependemos mais do cérebro, dos olhos e do coração do que da tecnologia ou dos parâmetros técnicos… a abertura é um estado de espírito local e a velocidade é a que o próprio momento determina – sempre sem pressas.

Foi assim, numa simples e descontraída caminhada, que nasceram as fotos do reflexo da mesquita Sultan Ahmet, dos pescadores no Bósforo, dos gatos com a mesquita ao fundo, da oficina de néons e tantas outras.

O facto de lá ter ido leccionar um workshop, concedeu-me ainda o privilégio de espreitar as gavetas da Leica Gallery onde estão arquivadas algumas imagens de Ara Güler.

De vez em quando perguntam-me se não me arrependo de ter captado imagens apenas com o telemóvel. Em boa verdade, não. Em sítios destes, é aí que encontro uma certa liberdade e paz de espírito… e ainda sobra espaço na bagagem para trazer a caixa de gomas que me ofereceram.

Air bag

01/03/2010

Quando temos nas mãos uma etiqueta como esta, isso é simultaneamente bom e mau.

Mau, porque quer dizer que a nossa bagagem andou perdida algures nos labirintos aeroportuários… e que tivemos de nos safar sem ela durante um, dois, ou mais dias. Bom, porque tudo aquilo que tínhamos tão carinhosamente arrumado e despachado na origem chegou finalmente ao destino.
Nos dias que correm, viajar de avião pode representar uma grande dose de ansiedade e visitas inesperadas aos gabinetes de “bagagem perdida”. As medidas de segurança (que também nos defendem – há que dizê-lo) e a banalização do transporte aéreo, com o aumento exponencial do número de voos, faz com que nos apeteça dar uma festa de boas-vindas às nossas coisinhas, assim que as vemos irromper gloriosamente no tapete de bagagens.

Mas porque é que nos agarramos tanto a isto? Porque é que nos sujeitamos a estragar umas férias, só porque a bagagem não apareceu?
Numa recolha que fiz para o workshop de fotografia de viagens, deparei-me um dia com uma frase sublime: “tudo o que precisa para viajar é um bilhete, passaporte e um cartão de crédito”. Uma segunda frase, acentuava esta perspectiva de outra forma: “Quanto mais bagagem trouxer consigo, mais longe terá de ir para deixar a casa”. Assim que as li, pensei: é este o tipo de pragmatismo que cada vez mais precisamos!

Também eu já cheguei ao destino sem bagagens (onde julga que fui buscar estas etiquetas?) e em Istambul até já tive de correr atrás de uma família que saía do aeroporto com a minha mala – demasiado iguais, pois claro!
Quando nos dedicamos à fotografia, as coisas pioram substancialmente: não só temos pouco espaço para meter roupa de reserva na bagagem de cabine (malditas máquinas, objectivas e flashes), como ainda por cima somos alvos preferenciais para escrutínio policial e alfandegário.
Daí, recentemente resolvi criar uma lista com alguns pontos que podem evitar muitas chatices. É um work in progress, desgraçadamente construído à custa de infortúnios pessoais e alheios, mas se isto puder “salvar” a vida a alguém, tanto melhor. Imprima, complete e ponha em prática.

1. Identifique sempre todas as peças de bagagem: uma bagagem não identificada é uma bagagem suspeita… e há histórias de bagagens que não partiram por causa disto. Faça-o num suporte que não descole e inclua um número de telemóvel.
2. Faça o check-in o mais cedo possível: desta forma escapa mais facilmente a problemas de overbooking e não corre riscos associados a despachar bagagem fora de formato em cima da hora (algumas mochilas, p.ex.).
3. Se lhe for possível, faça o check-in directamente para o destino final: se perder ligações por culpa da companhia, será colocado no próximo avião.
4. No check-in confirme os códigos do aeroporto de destino e de trânsito na etiqueta de bagagem antes que estas comecem a rolar tapete fora.
5. Tenha atenção onde é colado o talão com o número da bagagem (em caso de extravio, ele será essencial para fazer uma reclamação), e não se desfaça dos talões dos cartões de embarque.
6. Se leva muito equipamento fotográfico, preencha uma declaração de exportação temporária: no regresso evita problemas com a alfândega.
7. Tire partido da bagagem de cabine autorizada, do tamanho de um pequeno trolley, e preencha-a com mudas de roupa e artigos que são essenciais (lentes de contacto, medicamentos, etc.).
8. Se a sua bagagem não chegar ao destino, não saia do aeroporto sem abrir um processo de reclamação – só com o respectivo número poderá fazer o seguimento.
9. Aprenda a viajar com menos coisas. Eventualmente, nem precisará de bagagem de porão.
10. Se perder a bagagem, evite perder a calma. O cérebro, os olhos e o coração (e a máquina fotográfica) viajam sempre consigo. E afinal foi para ver sítios como o da imagem abaixo que decidiu viajar…