Tenho muito boas memórias de Istambul. E da Turquia, em geral.
E como agora se celebra aí a Capital Europeia da Cultura, decidi dar o meu contributo.
Cada vez gosto menos de fotografar algo que não tenho tempo de compreender. Às vezes, as coisas são tão avassaladoras que tenho medo de as enfrentar com a máquina, de cometer uma injustiça enorme e ficar apenas com uma colecção de clichés que perpetuam a imagem pobre (quando não mesmo errada) de um determinado local. Istambul é para mim um desses casos.
Estive lá por duas vezes, sinto-me particularmente descontraído a deambular pelas ruas e até lá tenho bons amigos – que me alojaram nos epicentros de Taksim e Beyoglu -, mas o universo desta cidade é tão grande e complexo que nunca tive coragem de fazer qualquer trabalho fotográfico “a sério”. Em vez disso, refugiei-me em apontamentos com o telemóvel, sem qualquer preocupação de colocar uma reportagem aqui ou ali.
As imagens que podem ver neste post saíram da minha última passagem. Já o disse várias vezes: fotografar com um telemóvel é muito terapêutico, porque dependemos mais do cérebro, dos olhos e do coração do que da tecnologia ou dos parâmetros técnicos… a abertura é um estado de espírito local e a velocidade é a que o próprio momento determina – sempre sem pressas.
Foi assim, numa simples e descontraída caminhada, que nasceram as fotos do reflexo da mesquita Sultan Ahmet, dos pescadores no Bósforo, dos gatos com a mesquita ao fundo, da oficina de néons e tantas outras.
O facto de lá ter ido leccionar um workshop, concedeu-me ainda o privilégio de espreitar as gavetas da Leica Gallery onde estão arquivadas algumas imagens de Ara Güler.
De vez em quando perguntam-me se não me arrependo de ter captado imagens apenas com o telemóvel. Em boa verdade, não. Em sítios destes, é aí que encontro uma certa liberdade e paz de espírito… e ainda sobra espaço na bagagem para trazer a caixa de gomas que me ofereceram.